Friday, September 12, 2008

AS SIRENES...

As Sirenes


Quando, por uma noite calma de primavera ou de outono, o marinheiro deixa vogar docemente o barco perto das margens, nas paragens semeadas de rochedos ou de escolhos, ouve ao longe, no marulho das ondas, o gorjeio das aves marinhas. Esse gorjeio, entrecortado, às vezes, por gritos estridentes e zombeteiros, sobe aos ares e passa invisível com um estranho síbilo de asas, por cima da cabeça do marinheiro atento, dando-lhe a ilusão de um concerto de vozes humanas. A sua imaginação então lhe representa grupos de mulheres ou de raparigas que se divertem e procuram desviá-lo do seu caminho. Desgraçado dele se se aproxima do lugar em que a voz parece mais clara, isto é, dos rochedos à flor d'água onde, para as aves marinhas, a pesca é frutuosa; infalivelmente o seu barco se quebrará e se perderá entre os escolhos.


Tal é, sem dúvida, a origem da fábula das Sereias; mas a imaginação dos poetas criou-lhes uma lenda maravilhosa.
Elas eram filhas do rio Aqueló e da musa Calíope. Ordinariamente contam-se três: Parténope, Leucósia e Lígea, nomes gregos que evocam as idéias de candura, de brancura e de harmonia. Outros dão-lhes os nomes de Aglaufone, Telxieme e Pisinoe, denominações que exprimem a doçura da sua voz e o encanto das suas palavras.


Conta-se que no tempo do rapto de Prosérpina, as Sereias foram à terra de Apolo, isto é, a Sicília, e que Ceres, para puni-las por não haverem socorrido a sua filha, mudou-as em aves.
Ovídio, ao contrário, diz que as Sereias, desoladas com o rapto de Prosérpina, pediram aos deuses que lhes dessem asas para que fossem procurar a sua jovem companheira por toda a terra. Habitavam rochedos escarpados sobre as margens do mar, entre a ilha de Capri e a costa de Itália.


O oráculo predissera às Sereias que elas viveriam tanto tempo quanto pudessem deter os navegantes à sua passagem; mas desde que um só passasse sem para sempre ficar preso ao encanto das suas vozes e das suas palavras, elas morreriam. Por isso essas feiticeiras, sempre em vigília, não deixavam de deter pela sua harmonia todos os que chegavam perto delas e que cometiam a imprudência de escutar os seus cantos. Elas tão bem os encantavam e os seduziam que eles não pensavam mais no seu país, na sua família, em si mesmos; esqueciam de beber e de comer, e morriam por falta de alimento. A costa vizinha estava toda branca dos ossos daqueles que assim haviam perecido.


Entretanto, quando os Argonautas passaram nas suas paragens, elas fizeram vãos esforços para atraí-los. Orfeu, que estava embarcado no navio, tomou a sua lira e as encantou a tal ponto que elas emudeceram e atiraram os instrumentos ao mar.
Ulisses, obrigado a passar com o seu navio adiante das Sereias, mas advertido por Circe, tapou com cera as orelhas de todos os seus companheiros, e se fez amarrar, de pés e mãos, a um mastro. Além disso, proibiu que o desligassem se, por acaso, ouvindo a voz da Sereias, ele exprimisse o desejo de parar. Não foram inúteis essas precauções. Ulisses, mal ouviu as suas doces palavras e as suas promessas sedutoras, apesar do aviso que recebera e da certeza de morrer, deu ordem aos companheiros que o soltassem, o que felizmente eles não fizeram. As Sereias, não tendo podido deter Ulisses, precipitaram-se no mar, e as pequenas ilhas rochosas que habitavam, defronte do promontório da Lucárnia foram chamadas Sirenusas.


As Sereias são representadas ora com cabeça de mulher e corpo de pássaro, ora com todo o busto feminino e a forma de ave, da cintura até os pés. Nas mãos têm instrumentos: uma empunha uma lira, outra duas flautas, e a terceira gaitas campestres ou um rolo de música, como para cantar. Também pintam-nas com um espelho. Não há nem um autor antigo que nos tenha representado as Sereias como mulheres-peixe. Como muita gente atualmente as representam.



BOM DIA DE SATURNO


NAMASTE

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